sexta-feira, 15 de maio de 2009

O assassinato da língua

Tatiane Dias


Meu pai sempre diz que se alguém fala errado e você entende assim mesmo, está tudo certo. Na verdade não penso muito pra falar. Então é bem capaz que saiam umas atrocidades de vez em sempre. Pra ser sincera, fico até encabulada de falar corretamente no meio em que vivo, que é de pessoas bem simples, embora eu seja uma universitária. Por outro lado também passo umas vergonhas consideráveis quando tenho de falar com pessoas mais cultas. "Eu já vou ir indo" já saiu da minha boca várias vezes, mesmo quando me policio.


Sou do povão e "nóis vai e nóis fica" é bem comum entre nós. Mas com a língua escrita sou completamente exigente tanto comigo quanto com os outros. (Exigente e não perfeita, pode ser que você encontre vários erros de português nesse texto, mesmo eu tendo revisado várias vezes).


Estou no terceiro ano de faculdade de jornalismo, faço o mesmo percurso de volta para casa desde que comecei e vejo todos os dias aquele mesmo erro de português do cara da mecânica: REGULAGEN. Minha vontade é descer do ônibus pegar uma lata de tinta e puxar a perninha do M que está faltando lá. Tão simples. Pena que eu não ande com tinta na bolsa (acho que já tem coisa demais lá dentro). Fora “AS BATERIAS NOVA” que vendem lá. Tem minhas dúvidas se são NOVAS mesmo.


Outra coisa que eu não consigo engolir é quem quer ser culto, falar bonito e acaba falando cada coisa que até Deus duvida. Conheço um ser de outro mundo que insiste em dizer COM NÓS. Pelo amor de Deus. Ou é CONOSCO ou é COM A GENTE. Se for para complicar diga COM A GENTE que todo mundo entende e não fica errado (Desde que não se diga: A Gente fizemos).


Quando eu tinha uns 12 anos mais ou menos fui com minha família para Ribeirão Preto. Meu pai foi fazer umas entregas de uns equipamentos de irrigação para a feira de tecnologia agrícola, a Agrishow. Tinha muita gente estrangeira lá, inclusive a pessoa pra quem meu pai fez o frete. Eis que surge um ser (que eu classifico como um ser primitivo ou no mínimo viciado em Tarzan). O sujeito que não entendia uma palavra em inglês (e pelo jeito nem em português), quis mostrar-se culto diante do gringo: “Com licença, vou lavar minhas MÃES”. Meu pai caiu na gargalhada e perguntou pro cara: “Quantas você tem?”.


Essa é outra que eu não consigo esquecer. Perto de casa tinha uma quitanda. Vendia mexerica poca. Acho que faliu porque não tinha o que vender, a mexerica era pouca.


No bairro vizinho ao meu (morar em periferia é bom por isso, tem bastante história pra contar), tinha uma pessoa que vendia: doce de leite, rapadura, queijo e tijolo baiano. Pensei: geralmente rapadura é quadrada, doce de leite também, esse tijolo baiano deve ser um doce avermelhado, quadrado com furos, tipo goiabada. Meu pai (como já deu pra notar) é caminhoneiro, um homem bem viajado, conhece bem as regiões brasileiras. Perguntei pra ele se em Minas Gerais, Bahia ou sei lá, tinha algum doce com esse nome. Pelo que ele sabia não havia. Toda vez que passava pela placa ficava encasquetada, até que observei melhor e advinha o que vi? Tijolos baianos, de BARRO. Queria saber o que ele estava fazendo na mesma placa que os doces. Senão me engano há até uma lei que proíbe vender coisas de espécies diferentes em um mesmo estabelecimento. Mas vai entender. Esse famoso jeitinho brasileiro é capaz de tudo!

2 comentários:

  1. Parabéns Thaty pelo blog, se encantou depois das aulas do Adauto né?
    Ótimo texto, concordo plenamente contigo, estão assassinando a nossa língua. Ao ler sua crônica me lembrei que em frente a rodoviária aqui de Capivari tem uma placa, em frente a um salão de cabeleireiro, onde está escrito ALIZAMENTO e ESCOVA PROGRECIVA. Toda a vez que passo ali parece que meus olhos são atraídos para aquela placa. Penso assim, se você tem dúvidas ao escrever, é tão fácil, consulte um dicionário,mas não!!!
    Bom espero ver muitos textos aqui viu e muitos comentários. Parabéns!

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  2. Thatyyyy... estou adorando o seu blog. Essa sua crônica sobre a língua portuguesa e seus "assassinos" me lembrou uma história. Estava passando em frente a uma loja há uns tempos atrás e me deparei com uma placa medonha. Não me lembro o que estava escrito. Ao lado havia uma lanchonete onde meu primo trabalha. Entrei e no mesmo instante critiquei a placa com piadinhas. Ao meu lado havia um motoboy que advinha? trabalhava na loja e ouviu tudo. Imagine-o me fitando naquele momento. Ele ficou muito bravo e lembro-me que comentou algo e saiu. Será que foi ele quem escreveu a placa? Essa dúvida me assola até hoje. Sem comentários.
    Beijossssss

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